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O barato pode sair caro na relação entre juros de curto e longo prazo

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O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (Bacen), define, a cada 45 dias, a meta para a taxa Selic, que é o principal instrumento para controlar a inflação e promover a estabilidade econômica. 

Para atingir essa meta, o Bacen faz operações de compra e venda de títulos públicos no mercado financeiro, influenciando diretamente a quantidade de dinheiro em circulação  e, consequentemente, a taxa de juros.  

Essas transações, que ocorrem de forma exclusiva entre instituições financeiras autorizadas, são vitais para ajustar o volume de recursos no mercado de curto prazo, conhecido como overnight, que envolve empréstimos de um dia garantidos por títulos públicos. A Selic anualizada é, portanto, o resultado dessas operações.

O Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) é o ambiente em que ocorrem as negociações de títulos públicos federais. Nessa plataforma, as operações podem ocorrer entre o Bacen e instituições financeiras, como bancos e corretoras, ou entre as próprias instituições. 

Um exemplo comum são as operações compromissadas, nas quais a autoridade monetária compra ou vende títulos com o compromisso de revenda ou recompra em uma data futura. Esses acordos ajudam a ajustar a liquidez do sistema financeiro e a manter a Selic efetiva alinhada com a meta estabelecida pelo Copom. Essa taxa efetiva é calculada diariamente com base nas operações compromissadas realizadas no sistema, refletindo a média ponderada das taxas negociadas ao considerar o volume e as condições das transações. 

Sendo assim, o Bacen monitora continuamente essa taxa e, se necessário, faz intervenções adicionais para mantê-la próxima da meta. Essas ações incluem tanto a injeção quanto a retirada de liquidez do sistema financeiro, assegurando o funcionamento ordenado do mercado.

Enquanto a Selic representa um indicador de curto prazo, há também a curva de juros futuros, que reflete as expectativas do mercado para os próximos períodos. Essa curva é representada pelos contratos de Depósitos Interfinanceiros (DI) negociados na B3, que funcionam como uma aproximação das expectativas sobre a taxa Selic futura. 

As decisões do Copom sobre a Selic têm impacto direto sobre esses contratos. Por exemplo, um aumento na taxa pode elevar o valor dos contratos de DI com vencimentos mais longos, refletindo a expectativa de juros mais altos no futuro. 

Por outro lado, se o mercado perceber que o Bacen está comprometido com a redução da inflação, uma alta na Selic hoje pode sinalizar menos necessidade de ajustes posteriores, o que pode achatar a curva de juros longos.

Agora, imagine uma redução não fundamentada da Selic. Esse movimento pode levar os agentes do mercado a acreditar que o Bacen precisará elevar os juros mais adiante para corrigir a decisão. 

Como consequência, as taxas de juros futuros sobem, impactando negativamente o custo dos empréstimos de longo prazo, fundamentais para o setor produtivo. Em outras palavras, uma redução precipitada na Selic pode acabar elevando os custos de financiamento na economia real, o que contradiz o objetivo de estimular o crescimento.

Por isso, é importante compreender a dinâmica entre a Selic e os juros futuros. Pressionar a autoridade monetária a reduzir a Selic abaixo das expectativas do mercado pode gerar efeitos adversos sobre as taxas de longo prazo, prejudicando o sistema produtivo e a confiança econômica. Nesse caso, o barato pode realmente sair caro.


Fonte: Contábeis